A Chacina dos Nove (1917-1919)


A Chacina dos Nove (1917-1919)

Durante a República Velha (1889-1930), basicamente duas famílias mandaram em Goiás/Tocantins. De 1889-1912 foi o domínio dos Bulhões e de 1912-1930, domínio dos Caiado.

A Chacina dos Nove (1917-1919)

No ano de 1918, os coronéis da oligarquia Caiado, cujo principal chefe era o Senador Antônio de Ramos Caiado, mais conhecido pelos apelidos de Totó Caiado ou Totó Brabeza, protagonizaram uma chacina que marcou a história da então pacata São José do Duro, atual Dianópolis, quando 9 pessoas tomadas como reféns e mantidas amarradas a troncos de madeira foram covardemente assassinadas em plena praça pública por uma força policial enviada da capital, Goiás Velho.
Tudo começou por causa de uma disputa de poder local entre o Juiz Manoel de Almeida, aliado dos Caiado e os coronéis Joaquim Ayres Cavalcante Wolney e seu filho Abílio Wolney, ambos ex-aliados da oligarquia Caiado e agora desafetos políticos de Totó.
O episódio é bastante conhecido nacionalmente e já deu origem a vários livros e até mesmo a um filme (ficção com pano de fundo histórico), o Tronco.
O Tronco é um filme de 1999, dirigido por João Batista de Andrade baseado no romance homônimo do escritor goiano Bernardo Élis. É estrelado por Ângelo Antônio, Letícia Sabatella, Chico Diaz, Rolando Boldrin e Antônio Fagundes e narra, com personagens fictícios, a história da chacina que marcou para sempre a vida dos dianopolinos e tocantinenses.

O Inventário de Vicente Pedro Belém
O estopim da crise foi o inventário de Vicente Pedro Belém, um amigo do coronel Abílio Wolney, que morava distante de São José do Duro cerca de seis quilômetros. Belém foi assassinado no dia 29/12/1917, pelo próprio cunhado.
Durante o desenrolar do inventário, Sebastião de Brito Guimarães, coletor estadual, concunhado do Cel. Abílio, resolve impugnar o inventário de Vicente Belém alegando sonegação. O juiz Manoel de Almeida aprova a impugnação. Em janeiro de 1918 a questão se arrasta e a posição de Sebastião é contestada pelos parentes de Vicente Belém, que protestaram.  Abílio decide resolver o assunto do inventário à força.
Juntamente com o pai, o Cel. Joaquim, Abílio Wolney e alguns jagunços partem da propriedade da família, a Fazenda Buracão, para São José do Duro, invadem o cartório, desacatam o juiz municipal, gritam que querem solução rápida para o inventário, batem com o coice da carabina na mesa do magistrado, ameaçam, discutem, exigem - e o juiz, intimidado pelos dois coronéis, pai e filho, e mais os jagunços, cede. Resolve atender e despachar o inventário no mesmo dia, nos termos da exigência dos coronéis. Despacha o inventário, porém decide denunciar os coronéis ao governo do estado, o que faz, juntamente com o coletor Sebastião de Brito Guimarães. A denúncia segue para Goiás Velho. E, com receio de represálias de Joaquim e Abílio, os dois retiram-se do Duro. Na expectativa da decisão do governo do Estado, a quem apoiavam.
João Alves de Castro, Presidente do Estado (como era chamado Governador à época) decide enviar uma força-tarefa, chefiada pelo juiz Celso Calmon Nogueira da Gama e uma guarnição militar comandada pelo Tenente Antônio Seixo de Brito. O objetivo era restaurar a ordem e pacificar a região.
Os Wolney fortificam a Fazenda Buracão. O Buracão vira uma praça de guerra. Ali se acoitam os mais famosos jagunços regionais. Cangaceiros armados até os dentes aguardam a chegada de tropas vindas da capital a qualquer momento. Olheiros dos Wolney davam notícia de uma tropa com 60 soldados ou mais.
O juiz Celso Calmon, ao chegar à cidade decide ir até a Fazenda Buracão – em missão de paz, segundo ele -  tentar negociar uma saída para o problema e foi diplomaticamente recebido pelos Wolney. Muito calmo e seguro de si, o dr. Calmon diz aos Wolney a que veio. Veio para pacificar, tranquilizar o Duro e as famílias, reintegrar as autoridades coagidas pela violência dos coronéis e pede aos Wolney a restituição do inventário de Vicente Belém, retirado do cartório e levado para o Buracão. O juiz afirma que a paz voltará a reinar com a devolução do inventário. Mas Abílio desconfia.
O Cel. Joaquim Wolney devolve o inventário, contrariando o filho Abílio.
Nada do que ficou acertado foi cumprido. De volta ao Duro, o juiz Celso Calmon Nogueira da Gama faz justamente o contrário do que, dizem, prometera aos Wolney no Buracão. Decreta a prisão do pai e filho, Joaquim e Abílio e expede o mandado de prisão. 
A tropa comandada pelo Tenente Antonio Seixo de Brito, marcha sobre a Fazenda dos Wolney - o Buracão. Acercam-se da casa-grande, onde os moradores ainda estavam adormecidos e foram pegos de surpresa. No cerco, o Cel. Joaquim foi brutalmente assassinado a tiros, facadas e coronhadas. Abílio escapou por pouco ao esconder-se dentro de uma tulha de farinha - arca de madeira onde se guardam cereais. Vários outros membros da família e jagunços foram mortos.
Sem conseguir capturar ou matar o Cel. Abílio Wolney e temendo vingança por parte do Coronel, os militares prendem nove pessoas, dentre elas, amigos e parentes de Abílio. Os presos foram mantidos amarrados a um tronco de madeira para serem usados como escudo humano caso Abílio resolvesse revidar.
O Cel. Abílio Wolney, revoltado com a situação e sedento de vingança, arregimentou dezenas de jagunços, na região de Barreiras (BA), cidade com a qual a família tinha muita ligação. O confronto era inevitável e a batalha foi sangrenta.
Abílio e seus jagunços travaram um combate que teve várias batalhas. No meio do tiroteio, a polícia matou os nove reféns que estavam presos ao tronco. 
A pedido de seus familiares o Cel. Abílio Wolney retirou-se para o Piauí, onde ficou refugiado durante quase 8 anos, até ser anistiado, em 1927, por decreto do Presidente Arthur Bernardes, para combater a Coluna Prestes, que naquela ocasião, na sua longa marcha pelo pais, atravessava o norte de Goiás, hoje Tocantins, tendo passado pela cidade de São José do Duro.
 No local onde foram sepultadas as vítimas da chacina foi erguida uma capelinha, em homenagem aos que pereceram. O local passou a ser conhecido como a Praça dos Nove.
 A Capelinha dos 9, em Dianópolis (TO), é considerada até hoje um dos maiores patrimônios histórico e sentimental do povo dianopolino.


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